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Após fala de Macron, Bolsonaro diz que 'sujeição automática' ao exterior está fora de cogitação

Por Portal Do Holanda

30/11/2018 10h31 — em
Brasil



No mesmo dia em que o presidente francês Emmanuel Macron afirmou que os questionamentos do presidente eleito do Brasil ao Acordo de Paris podem comprometer a negociação do tratado comercial entre o Mercosul e a União Europeia, Jair Bolsonaro postou no Twitter que “está fora de cogitação” o Brasil se alinhar automaticamente a qualquer interesse externo.

“Sujeitar automaticamente nosso território, leis e soberania a colocações de outras nações está fora de cogitação”, afirmou o presidente eleito. “É legítimo que países no mundo defendam seus interesses e estaremos dispostos a dialogar sempre, mas defenderemos os interesses do Brasil e dos brasileiros.”

Publicado no final da noite de quinta-feira, o texto foi entendido como uma resposta velada a Macron. Bolsonaro fixou o comunicado no topo de sua conta no Twitter, uma forma de destacá-lo.

Em Buenos Aires, onde se encontra para o encontro do G20, o presidente francês disse que o seu país não pode promover pactos com países que não estejam dispostos a cumprir o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas.

— Houve uma mudança política no Brasil, e o Mercosul deve avaliar o impacto dessa mudança — declarou. — Não sou favorável a assinar entendimentos com países que dizem claramente que não o respeitarão (o Acordo de Paris).

Por orientação de Bolsonaro, o Brasil abriu mão de sediar a próxima Conferência do Clima, a COP-25. Seu futuro chanceler, o embaixador Ernesto Araújo, tem demonstrado ser um cético da mudança climática impulsionada pela atividade humana, sobretudo a industrial.

Desde antes de ser eleito, Bolsonaro tem demonstrado interesse em aumentar a aproximação entre Brasil e Estados Unidos, e anunciou medidas alinhadas à política externa do governo de Donald Trump, como a transferência da embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém.

Em outubro de 2017, ainda durante a pré-campanha, o presidente eleito prestou continência à bandeira americana em Miami. Na quinta-feira, ele repetiu a saudação militar, direcionada ao conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, que o visitou em sua casa.

Própria ao meio militar, a saudação, de origem incerta, costuma ser descrita como sinal de “respeito e apreço" em manuais e decretos do Exército. O gesto é regulamentado por um decreto de 1997, que determina que militares da ativa devem prestá-lo a seus superiores, que, a depender da própria vontade, podem ou não corresponder com gesto idêntico.

Bolton não correspondeu, rapidamente oferecendo a mão para um aperto entusiasmado.

Além disso, em visita a Washington no começo da semana, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito que tem atuado como representante informal do pai em política externa, usou um boné escrito “Trump 2020”, em referência à campanha pela reeleição do atual ocupante da Casa Branca.

O ato foi considerado controverso por apoiar um político de outro país — tradicionalmente, a diplomacia proscreve a interferência, sobretudo explícita, na política doméstica de outras nações.

O entusiasmo em relação ao atual governante dos EUA é compartilhado por Ernesto Araújo. No artigo “Trump e o Ocidente”, publicado na revista “Cadernos de Política Externa” de dezembro de 2017, o futuro chanceler fez um paralelo entre o atual mandatário americano e Deus.

Araújo afirmou que, segundo o filósofo alemão Martin Heidegger, “somente um Deus poderia ainda salvar o Ocidente”. De acordo com o novo chanceler, após escutar um discurso de Trump na Polônia, “talvez Heidegger mudasse de opinião” e pensasse que “somente Trump pode ainda salvar o Ocidente.

Temer: Bolsonaro espera colegas do Brics

Em Buenos Aires, onde participa da cúpula do G-20, o presidente Michel Temer disse nesta sexta-feira a líderes do grupo Brics que o presidente eleito Jair Bolsonaro terá "grande prazer" em recebê-los no Brasil para a cúpula do grupo prevista para 2019.

Em pronunciamento durante reunião informal do Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, Temer disse que convidou Bolsonaro a acompanhá-lo a Buenos Aires, mas que o presidente eleito não pôde comparecer.

—Naturalmente, em seu nome, do presidente eleito, na convicção mais absoluta de que ele terá uma participação muito ativa no Brics, eu transmito os seus cumprimentos e a mensagem de que terá grande prazer em recebê-los no Brasil no próximo ano por ocasião da cúpula do Brics — disse Temer.

O Brasil assumirá em 2019 a presidência de turno do Brics e realizará diversos encontros nas mais de 30 áreas de cooperação setorial, incluindo uma cúpula com os líderes dos países integrantes do grupo.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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