Por Ana Celia Ossame, especial para Portal do Holanda

Um dia de sol é a senha para o ‘Michael Jackson amazonense’ montar o seu palco ao ar livre e dançar imitando os passos do artista norte-americano bem ali, no sinal do cruzamento das avenidas Pedro Teixeira e Constantino Nery, no bairro D. Pedro, Zona Centro-Oeste.

A dança da música “Billie Jean” de Michael Jackson é uma das principais performances usadas por Vanílson dos Santos Tavares, 35, um parintinense radicado em Manaus há mais de 10 anos que ganha a vida nas ruas dançando, cantando e fazendo as pessoas, especialmente as crianças, sorrirem.

Vestido a caráter, com o artista norte-americano, a música ecoa da caixa de som ligada por ele a um alto volume. Em poucos minutos, ele para de dançar e fala ao microfone pedindo o gesto de doação de qualquer quantia aos que estão nos veículos. 

A outra habilidade dele é ser ventríloquo, usando um boneco de pano com o qual faz piadas e canta músicas como a dos Trabalhões, “Papai, eu quero me casas”, sucesso do humorista Renato Aragão e seu personagem Didi.

O ofício de artista Vanílson aprendeu com a vida e as necessidades. Com estudos que foram até o 4º ano primário, ele teve que se virar para sustentar a família e quando não conseguiu mais colocação no mercado de trabalho, teve a ideia de buscar alternativas em outras áreas.

 “Eu ficava olhando vídeos para aprender como ele dançava”, disse Vanílson, que aceita convidas para apresentações em aniversários para cantar, dançar e fazer piadas usando o boneco.

Separado, pai de duas jovens, que moram com ele, sustenta-se com o que ganha tanto nas ruas quanto na Feira de Artesanato que acontece todos os domingos na Avenida Eduardo Ribeiro, no Centro de Manaus.

O artista tem um sonho de chegar a algum programa de televisão com apresentador famoso para mostrar sua arte ao Brasil, mas enquanto não acontece, vai seguindo sua rotina de artista de rua na capital amazonense. 

Em geral, consegue dinheiro para a alimentação aluguel e não reclama da vida. “Muitas pessoas são boas, gostam do meu trabalho e sempre me ajudam”, explica ele, que não costuma reclamar de nada, nem mesmo de ter que ficar sob o sol escaldante para garantir o almoço de cada dia.

O industriário José Carlos Martins, que passava por ali, disse admirar a iniciativa e a força de vontade do artista em buscar a sobrevivência nas ruas. “Não é fácil isso, mas eu desejo sucesso”, disse.

Ao final de cada dia, seja pela quantidade de tempo em que fica dançando ou conversando com o boneco de pano, o cansaço do ‘Michael Jackson amazonense’ é intenso e torna-se mais um detalhe no rosto marcado por rugas profundas, que acusam mais idade do que consta no registro de nascimento dele.

Não importa. Se alguém chamar para alegrar uma festinha de criança ou de qualquer outra motivação, Vanílson não recusa a proposta e vai.

A dança será, com certeza, um refrigério para amenizar os efeitos do calor impregnado na pele queimada pelo sol, pelos dias e noites de lutas e incertezas. Dessa forma, além de levar alegria aos outros, que é o que gosta de fazer, terá um reforço na renda que depende e muito desse tipo de convite.