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Organização criminosa é a pedra no sapato dos candidatos em Manaus


Por Raimundo de Holanda

13/09/2020 22h43 — em
Bastidores da Política



As eleições estão chegando.  Não será,  como era esperado, um exercício da democracia. Antes de chegar aos 2,5 milhões de eleitores do Amazonas,  os candidatos terão uma missão espinhosa: passar pelo crivo do Comando Vermelho, a organização criminosa que detém o monopólio do tráfico de drogas no Estado e se estabeleceu em todas as sedes das médias e grandes cidades. Não será um batismo - como é o processo de iniciação de seus soldados.  O  que será então exigido dos candidatos ? Podem apostar e nada do que sugerirem será provado.  

No vazio deixado pelo Estado que faz eleições e canta a democracia, há um outro Estado, paralelo, com suas próprias regras e conexões com o mundo  estruturalmente legal, que aprendemos a conhecer na teoria, mas que na prática  é um iceberg, que está derretendo, expondo os monstros que criou…

TSE NÀO SE PREOCUPOU

Apesar do risco de interferência do poder paralelo nas eleições deste ano, em Manaus e outras cidades, o TSE não se preocupou em alertar o eleitor, nem adotou medidas para transferir secções de  votação  das zonas vermelhas para áreas onde essa interferência pudesse ser menor ou não houvesse possibilidade de existir. As campanhas publicitárias do Tribunal  se concentram  nas fake news, esquecendo que a segurança das eleições e a vontade do eleitor vão além de noticias falsas.

LÍDERES DO TRÁFICO RETORNAM

Manaus será um desafio para os candidatos, por ser  o epicentro das disputas entre diversas organizações criminosas, entre elas um novo grupo, “Os Crias”, composto por ex-membros da FDN, membros do PCC e grupos peruanos e colombianos, estes grandes conhecedores da região

Contribuiu para o redesenho desse cenário - que tinha apenas o vitorioso CV como protagonista, depois do massacre da FDN - o retorno aos presídios do  Estado, no  início do mês de julho, de 15 líderes de facção que se encontravam em penitenciárias federais. Isso  certamente está relacionado aos novos embates entre grupos rivais na cidade pela retomada de territórios.

NOMES EM SEGREDO ?

A Secretaria de Administracao Penitenciária  não divulgou os nomes, mas a noticia foi muito comemorada nas redes sociais de amigos e familiares dos presos, como Denilson Silva Ferreira, 27, o “Sassá da Praça 14”, Thiago Fernando Soriano, vulgo “Thiago Alemão”, sobrinho do narcotraficante, o Zé Roberto da Compensa, Antônio Marcos Pereira, ou "Capucho", Bruno Henrique Assis Bezerra, o "Parazinho", entre outros. 

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Conforme noticiado pelo Portal, em 21 de julho de 2020, a justiça decidiu pela manutenção de Gelson Carnauba, João Branco e Zé Roberto por pelo menos mais dos anos longe de Manaus.

GUERRA E SANGUE

O Amazonas chegou para ficar no Mapa da Violência no Brasil. Hoje, o estado é reconhecido nacionalmente em razão dos massacres ocasionados pelas guerras de facções, tudo isto em razão do  “racha” entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), no fim de 2016. Os enfrentamentos pela disputa dos pontos de venda e pelas rotas de escoamento da droga também só cresceram desde então.

A FDN, que agora tenta se reerguer com outro nome, foi  fruto da parceria entre José Roberto Fernandes Barbosa, o “Zé Roberto”, e Gelson Carnaúba, O “ mano G”. O primeiro dominava a Zona Oeste da cidade, em especial o bairro da Compensa, enquanto que “mano G” dominava a Zona Sul. A união ocorreu após compartilharem um período de prisão num presidio federal.
Num movimento estratégico de dominação, a “FDN” fez aliança com o Comando Vermelho. A primeira consequência da união foi a ordem para que todos os membros do Primeiro Comando da Capital, então maior rival no pais do “CV”, presos em Manaus, fossem mortos. Foram 56 mortes, no conhecido Massacre do Compaj, todos membros do PCC.


Mas a união entre FDN e CV não durou muito. Uma briga interna entre Zé Roberto e João Pinto Carioca, o “João Branco” pôs fim à associação criminosa entre as facções. João Branco deu início à criação de um novo grupo criminoso, batizado por ele de “FDN Pura”, que teve vida curta, mas não sem antes causar o segundo massacre, em maio de 2019, agora, com 55 mortos, tudo em razão do racha dentro da FDN.
Desde então Manaus  foi tomada pelas guerras pelo comando dos pontos de venda, com áreas da cidade sob o domínio das diversas facões, como Zona Sul e parte da Zona Leste, controladas pelo “CV” e Zona Oeste, comandada pela FDN.
O novo movimento na disputa pelo poder fez nascer o grupo criminoso “Os Crias”, composto por ex-membros da FDN, membros do PCC e grupos peruanos e colombianos, estes grandes conhecedores da região.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.