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Os meninos que perderam a corrida do tempo


Por Raimundo de Holanda

07/09/2020 22h38 — em
Bastidores da Política


  • O que faltou aos herdeiros de Umberto Calderaro Filho foi o pé descalço melado de graxa na oficina, o cheiro da tinta na impressora invadindo os pulmões, a privada dividida com os funcionários, o café ralado servido em um único copo nas madrugadas com rotativa quebrada. Faltou-lhes o coração, que foi enterrado com o velho Calderaro.

O tempo só é inimigo de quem ignora que o mundo não para, que as ideias se transformam, as tecnologias se aperfeiçoam e as pessoas respiram diferente a cada minuto. Quem não percebe essas transformações, morre. É o caso dos jornais impressos. Aqueles que se apressaram em convencer os assinantes a migrar para as publicações digitais vão sobreviver por muito tempo, nas duas plataformas.

Foi o que a Critica não fez e o tempo a colocou em uma vala de onde dificilmente sairá.

Com 70 por cento dos funcionários em greve e uma dívida trabalhista de R$ 1,2 milhão, essa crise vivida pelo jornal é fruto de um atraso histórico, de uma corrida da qual os meninos herdeiros se negaram a participar.

Pior, está em jogo um sonho do fundador do jornal, Umberto Calderaro Filho. Os herdeiros pensam em vender a sede onde hoje funciona a Crítica, idealizada pelo avô para ser o centro das comunicações, com rádio, jornal e TV. Calderaro criou tudo isso e tudo pode acabar. Num passe de mágica incompetência…

O que faltou aos herdeiros de Umberto Calderaro foi o pé descalço melado de graxa na oficina, o cheiro da tinta na impressora invadindo os pulmões, a privada dividida com os funcionários, o café ralado servido em um único copo nas madrugadas com rotativa quebrada. Faltou-lhes o coração, que foi enterrado com o velho Calderaro.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.