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Prisão onde brasileiro está em Caracas é chamada de 'Tumba'

Por Portal Do Holanda

06/01/2018 6h33 — em
Mundo


Foto: Reprodução Facebook

BUENOS AIRES - Depois de mais de uma semana de desinformação e graças à intervenção do Ministério das Relações Exteriores, o governo venezuelano finalmente comunicou às autoridades diplomáticas brasileiras em Caracas onde está Jonatan Diniz, preso desde 28 de dezembro passado. Segundo confirmaram ao GLOBO fontes brasileiras, o rapaz está detido na sede central do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), na capital venezuelana. Esse foi o primeiro lugar onde as autoridades do consulado brasileiro procuraram Jonatan, mas num primeiro momento agentes do Sebin negaram que ele estivesse no local, chamado de “A Tumba” por ex-presos locais.

O nome se deve à profundidade do porão onde estão sete calabouços, segundo contou Raúl López, ex-preso político que em 2014 ficou dois meses no lugar. Segundo Raúl, os detentos estão a cerca de cinco andares debaixo da terra, totalmente isolados, suportando temperaturas baixíssimas (reguladas com ar condicionado) e luzes que permanecem 24 horas acesas.

— O objetivo é nos enlouquecer — disse Raúl, um médico fisioterapeuta que foi acusado de ter organizados protestos contra o governo Nicolás Maduro em fevereiro de 2014.

Ser parente distante do líder opositor Leopoldo López (que esteve mais de três anos detido e hoje cumpre regime de prisão domiciliar) o prejudicou e levou, segundo ele, as autoridades do país a o considerarem “um preso perigoso”.

— Na Tumba estão os presos que o governo mais teme, os que querem que estejam totalmente desconectados da realidade. Eu fiquei dois meses lá e só saí pela pressão de minha família e de meus advogados — assegurou Raúl, que continua com liberdade condicional e proibido de sair do país.

O governo brasileiro demorou mais de uma semana em descobrir que Jonatan está nesta espécie de prisão de máxima segurança do Sebin. Não foi comunicada ainda uma acusação formal contra o brasileiro.

Jonatan, de 31 anos, mora nos Estados Unidos e viajou para a Venezuela para fazer trabalhos de caridade. No dia de sua detenção, Diosdado Cabello, membro da Assembleia Nacional Constituinte e figura de peso dentro do chavismo, declarou publicamente que Jonatan estava à frente de uma ONG chamada Time to Change the Earth que, de acordo com o dirigente chavista, servia de fachada para promover atividades contra o governo venezuelano nas redes sociais e nas ruas. O chavismo também o acusou informalmente de ser parte do grupo “Warriors of Angels” (Guerreiros dos anjos, em português) e um dos supostos delitos cometidos por Jonatan teria sido a publicação em redes sociais de imagens de protestos contra o governo Maduro.

Cabello sugeriu até mesmo que a CIA poderia estar envolvida nas supostas atividades do brasileiro com a meta de “identificar objetivos estratégicos e financiar terroristas”. Sempre de acordo com Cabello, militar reformado e ex-companheiro de armas do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2012), na operação de detenção do brasileiro a polícia apreendeu 40 camisetas e bonés vermelhos, identificados com o nome da ONG Time to Change the Earth.

— Já sabemos onde ele está e enviamos a documentação solicitada pela chancelaria venezuelana. Estamos pedindo autorização para realizar uma visita consular, mas ainda não foi concedida — informou a fonte brasileira, que pediu para não ser identificada.

Segundo ela, o governo venezuelano só confirmou o lugar onde Jonatan está detido após uma solicitação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Na última quinta-feira, o Itamaraty afirmara em nota que as autoridades da Venezuela ainda não haviam passado informações sobre a situação do brasileiro.

— Nos disseram que ele está bem, mas estamos pedindo para realizar uma visita. Não podemos confirmar como ele está antes de vê-lo — assegurou a fonte.

Informações sobre a Tumba começaram a circular há pelo menos dois anos na Venezuela. Existem até mesmo breves documentários sobre o lugar, localizado em frente à Praça Venezuela, em Caracas. O prédio era antigamente um banco, e os calabouços mencionados por Raúl eram no passado caixas-fortes.

— Os agentes do Sebin não permitem que os presos se comuniquem, é horrível. Você não pode falar com ninguém e perde a noção de quando é dia e quando é noite — contou o médico, que hoje define-se como “um ex-preso político independente”. — Fiquei detido entre junho de 2014 e maio de 2015. Na Tumba foram dois meses tenebrosos, depois estive no Helicoide (outra sede do Sebin).

Reportagens escritas por meios de comunicação locais sobre a Tumba mencionam torturas a presos políticos no lugar. Raúl negou ter sido torturado fisicamente e insistiu em que “a pior tortura é a psicológica”.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: brasileiro preso, tumba, Venezuela, Mundo

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