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Disputa com aço importado no Brasil era predatória, diz presidente da ArcelorMittal

Por Folha de São Paulo

26/04/2024 11h30 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A entrada no Brasil de aço importado, sobretudo da China, era predatória e ameaçava investimentos e a manutenção de empregos do setor, diz o presidente da ArcelorMittal Brasil, Jefferson De Paula.

Na terça-feira (23), o governo anunciou que irá colocar cotas para a importação de aço e aumentar para 25% o Imposto de Importação sobre o volume excedente.

A decisão atende a uma demanda das siderúrgicas brasileiras, que consideram haver uma invasão do aço chinês no país. Os produtos que foram alvo da medida têm tarifas hoje que variam de 9% a 12,6%.

Para De Paula, o aumento de preços após a elevação do imposto, como chegaram a destacar setores consumidores de aço ao longo das negociações com o governo, não era o objetivo das siderúrgicas e não está dado, depende de diferentes fatores, como o preço da matéria-prima.

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Pergunta - Como foi o processo de negociação com o governo para reduzir as importações de aço?

Jefferson de Paula - O setor vinha negociando uma medida com o governo nos últimos nove meses, e mostramos que a importação de aço cresceu 50% de 2022 para 2023. Neste ano, no primeiro trimestre cresceu mais 25%, hoje temos de 20% a 23% do mercado de consumo operando com aço importado. Toda a siderurgia brasileira, ao longo dos últimos dez anos, vem investindo R$ 12 bilhões para aumentar a capacidade e melhorar a qualidade da produção, temos um parque industrial moderno no Brasil e estávamos trabalhando com 60% da capacidade.

P. - O setor via como desleal ou até predatória a disputa com o produto chinês?

J. P - O ataque que estávamos sofrendo era predatório mesmo, principalmente vindo da China, mas não apenas de lá. A medida do governo não é só contra a China, mas contra a importação de aço de maneira predatória. 65% do aço importado pelo governo é chinês, e é predatório por ter subsídios do governo, por ser vendido com prejuízo para o Brasil. Os Estados Unidos já tinham colocado essas medidas. A União Europeia, o México e o Chile, mais recentemente, também. O Brasil tinha virado o destino desse aço, vindo também do Egito, da Rússia, do Peru. Mostramos para o governo que eles estavam inundando o Brasil de aço.

P. - A medida do governo é suficiente?

J. P. - A medida é um avanço, por trazer além das regras um compromisso do governo com o aço brasileiro, de fazer um acompanhamento, realmente monitorar qual vai ser o resultado. Não tínhamos nada antes, a não ser o imposto de até 12% de importação, agora vamos ter esse regime de cotas mais imposto de importação e mais o monitoramento para diminuir a entrada de aço predatório. Diminuindo, vamos manter os investimentos programados, vamos operar as plantas sem precisarmos parar ou demitir. A ArcelorMittal tem um plano de R$ 25 bilhões de investimentos nos próximos três ou quatro anos.

Temos um plano de investimento para aumentar a performance, modernizar, colocar produtos de alta capacidade. Mas do jeito que estava, a gente teria de rever investimentos, parar plantas e demitir pessoas. O governo se sensibilizou com a situação dramática do setor no Brasil, que é um negócio de base, sem aço o país não sobrevive.

Está em linha com a reindustrialização do Brasil, não dá para competir com o aço que vem com prejuízo para o Brasil.

P. - Os setores consumidores de aço vinham apontando uma preocupação com o aumento de impostos, que poderiam chegar a um aumento de preços até o consumidor final. Os preços podem aumentar após a medida do governo?

J. P. - Discordamos, o nosso foco sempre foi o volume de importação, por estamos trabalhando com 60% da capacidade, não estamos de acordo com a visão de que o objetivo era aumentar preço.

O preço não é definido assim, é de acordo com o mercado internacional, da matéria-prima, é complexo. O mercado no Brasil não está crescendo a ponto de ter aumento de preços. Não estou dizendo que não vai aumentar, mas depende dessas questões. Posso garantir que não é o objetivo da cota ou dos 25%.

P. - A siderurgia brasileira pode liderar uma transição para o aço verde?

J. P. - Estamos em 60 países, sendo o maior produtor de aço no Brasil. Produzimos 42% de todo o aço produzido no país no ano passado e lideramos a descarbonização da siderurgia mundial, sendo a primeira do setor a definir metas —25% a menos de emissão até 2030 e carbono neutro até 2050. Já gastamos 300 milhões de euros em pesquisa e desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos. A previsão é de investir US$ 10 bilhões até 2030 para reduzir a emissão de CO2.

Podemos ser uma referência para o mundo, não só na siderurgia. Fizemos um contrato com a Casa dos Ventos e estamos construindo um parque eólico, estamos investindo R$ 4,2 bilhões, e estamos negociando outros parques de energia renovável. Precisamos, para um período de transição, de mais sucata, de gás natural a um preço internacional. Temos projeto de injetar carvão vegetal em alto-forno, temos a possibilidade de o Brasil estar na vanguarda da descarbonização no mundo.

RAIO-X | Jefferson De Paula, 65

É presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO Aços Longos e Mineração LATAM desde outubro de 2021. Atua na indústria do aço há 40 anos. É presidente do Conselho Diretor do Instituto Aço Brasil, membro do Conselho Executivo da Alacero (Associação Latino-Americana do Aço) e vice-presidente da diretoria e membro do Conselho Estratégico da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais)


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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