Adeus pro Nonato, o que não queria ser Raimundo, como eu...
A morte tem estado tão presente e ameaçadora que um nome no obituário é apenas um nome. "Ah, é ele ?”. Neste caso um nome conhecido - Raimundo - como eu, solto no mundo, como se não tivesse mais de 70 anos. Raimundo, ele praticamente apagou para os amigos. Mas não se é Nonato sem ter sido Raimundo. Certa vez, conversando sobre o "Poema de Sete Faces", me indagou o que o “porra” do Drumond tinha contra os Raimundos . Um poema tão bonito, estragado em uma estrofe. Um poema sensual para aqueles tempos:
"As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos..."
E aí aquele encerramento com uma desfeita com os Raimundos. Isso nos indignava:
"Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.”
Coisa para a qual nunca encontramos uma explicação, não que aceitássemos...
Raimundo, para Nonato, morria ali…
Sentia-se um moleque de 15, até duas semanas atrás, quando resolveu que enfrentaria a Covid e perdeu essa batalha, como tantas que travou…
Sua “viagem” neste sábado surpreendeu os amigos e calou muitas vozes que o aplaudiam. Nonato deixa um legado, uma biografia, uma história. É pouco para quem tinha sede de viver, paixão pela política e um inexplicável xamego por Iranduba.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.