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O policial violento e nós, os bons e cheios de virtudes


Por Raimundo de Holanda

21/09/2020 19h52 — em
Bastidores da Política



O video no qual um policial militar grita e empurra um  homem que havia entrado sem permissão em  pronto-socorro de Manaus para visitar o pai  provocou uma onda  de protestos nas redes sociais. Muita gente vomitou ódio contra ele, mas houve quem ponderasse que havia virtudes no policial. Profissão estressante  e perigosa, misturada  a despreparo e um poder que a arma no coldre estimula. Ninguém sabe como foi o dia desse policial, os problemas em casa, a falta de comando no quartel, as dívidas, a incompreensão da mulher. Se nos olharmos no espelho, era um de nós… 

E quem era o rapaz?  Um cidadão pobre, nascido para ser eterna  vítima do poder, seja  de um policial triculento, seja  dos    que buscam seu voto para que ele permaneça refém das armas,  do serviço de  saúde precário ou  das migalhas dos programas  sociais criados para encobrir os pecados dos que governam.

Estávamos ali também, se formos olhar no  espelho e nos despir dos  privilégios que temos,  das amizades com os donos do poder, que não se recusam a tirar o respirador de um paciente quase anônimo para colocar no rosto de um amigo que indicamos. 

A nossa natureza é essa. Nossa cultura é da violência. Entrar no hospital na marra, mesmo movido por sentimentos nobres, foi uma violência. Poderia  significar riscos para a segurança de outros pacientes, dependendo das intenções de quem entra em uma área restrita.

Mas repreender o rapaz da forma como o policial  fez,  foi sim de uma crueldade sem tamanho. Violência desnecessária, descabida.  Revelou, antes de tudo, falta de controle, falta de preparo para situações desse tipo - que são comuns  e para as quais a policia deveria ser treinada cotidianamente. 

Mesmo nesses conflitos que assistimos de  longe e  de certa forma nos excluímos por nos achamos bonzinhos, se mais uma vez colocarmos os olhos no espelho nos  veremos  dentro deles,  como atores dessa violência. Seja porque como  juizes julgamos ao sabor de interesses que não o da justiça, seja porque como jornalistas criticamos porque não gostamos de alguém,  seja porque  como qualquer cidadão anônimo apontamos o dedo para os  outros  sem olhar nossos pecados…

Esse episódio triste do policial  agressor e do cidadão que queria ver o pai e entrou na marra no hospital tem que ser visto, por cada uma de nós, através do espelho…

Veja o video da agressão AQUI

 

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.